terça-feira, 28 de abril de 2015

A vitória é do amor



Mais uma vez estava lá... parada, com as mãos acorrentadas pelo medo. Não conseguia se mexer e achava que as coisas deveriam ficar como estavam.  Então optou por um breve sorriso, querendo se desfazer de todos os pensamentos ruins que vieram surgindo em sua cabeça, ainda confusa com tudo o que ouvira. Achou, por um breve momento, que um gesto desse pudesse conter aquelas palavras horríveis que estavam sendo ditas.
Não havia um meio de sair daquilo. Uma a uma, as palavras lhe esbofeteavam o rosto, cortavam como navalha sua face ainda perplexa diante de tantos insultos. Foi saindo, deixando aquele lugar, como se não estivesse sentindo nada. Não imaginava o que poderia acontecer.
Foi quando ouviu uma daquelas palavras. Escutou uma daquelas palavras... aquela palavra fez ressuscitar todas as más lembranças que guardava em sua memória e por um momento pensou em voltar e acabar logo com aquela angustia, proferindo palavras que cortariam muito mais que aquelas... mas seus lábios adormeceram e suas pernas continuavam seguindo um curso, como se fosse um caminho bem conhecido. E era. Era o caminho de sempre.
Todas as vezes que se sentia coagida, ameaçada, com aquelas pessoas, achava melhor trilhar esse caminho. Ir embora, sem dizer o que achava simplesmente porque não se pode usar sinceridade com quem não é sincero. De nada adiantaria. Pessoas mentirosas não sentem a verdade, selecionam palavras e as usam em seu favor.
            Saiu. Tentou apaziguar, não só a todos ao seu redor, mas seu interior também. Porque naquele momento o que mais queria era dizer tudo o que sempre quis... mas muitas vezes é preciso ouvir com o coração e agir com a cabeça e não o contrário.
Chegou em casa, sentiu que podia relaxar, que podia organizar suas ideias e seus pensamentos. E ainda no outro dia todo o ocorrido não lhe saía da cabeça. Esperou as horas frias passarem. Rodrigo chegou.
Rodrigo era uma pessoa que tinha a capacidade de transformar qualquer ambiente... calmo, paciente, centrado, sistematizava meios para estabelecer a paz e por muitos anos havia vivido como se pisasse em ovos. Muita delicadeza era necessária para lidar com parte das pessoas que amava, então desde cedo ele havia aprendido a se comportar assim. Ignorava a todos os contratempos e desaforos que vinham das pessoas que amava. Cedia sempre que se via encurralado pelos espinhos que entrelaçavam sua sobrevivência naquela família. Mas naquele dia foi diferente.
A mesma palavra que fora lançada para Luisa, lançou-se em seu coração como se fosse uma espada. Uma regra havia sido quebrada. A regra maior. Porque, para ele, uma das coisas mais importantes da sua vida estava sendo colocada a prova por aquela palavra... sua mulher havia passado por todos os momentos mais fáceis e difíceis naqueles cinco anos... havia deixado sua vida para trás duas vezes, apenas para acompanha-lo sempre que decidia ter uma vida nova... não era justo. Palavras até poderiam ser ditas para justificar o ato mau feito com sua mulher. Mas com ele não. O limite era esse. Alguém tinha que enxerga-lo pelo menos uma vez na vida... alguém tinha que entender que ele estava respeitando todas as decisões que haviam sido tomadas até aquele momento. O fato de não comparecerem no seu casamento, o fato de evitarem tocar em todos os assuntos  delicados... mas aquela palavra... aquilo foi demais.
Cerrou os punhos, deu meia volta e foi pra cima dele. Mas quando foi segurado, caiu sem si. Pensou melhor, olhou para os olhos ainda desesperados de sua esposa e optou por seguir as pernas dela, que caminhavam em direção à porta, procurando, junto com seus olhos aflitos, uma saída daquela cena que acabava de acontecer.
No dia seguinte, Rodrigo chegou do trabalho... encontrou sua esposa Luisa deitada. Seus olhos se cruzaram e naquele momento nenhuma palavra saiu de suas bocas. Nenhuma sílaba foi necessária. Porque o pior já havia passado e eles poderiam trilhar novamente seu caminho, deixando pra trás o ocorrido e se focando novamente numa vida real, que não espera pequenos conflitos internos... as contas chegaram e alguém tinha que fazer a comida do jantar.

Cozinharam juntos, riram juntos. Como todos os dias, conversaram sobre o dia que tiveram e sobre todas as coisas do dia anterior, decidindo o que era melhor fazer. Dormiram abraçados como de costume, só que leves... bem leves... porque mais uma vez o amor venceu. 

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